O relato da existência da cidade conhecida como Nosso Lar foi fornecido pelo espírito André Luiz a Chico Xavier, e se destaca como uma das narrativas mais complexas do mundo espiritual.
Camilla Salmazi
Muito se fala e se questiona sobre a vida após a morte, talvez pela necessidade ancestral do homem em saber se existe algum lugar para onde sua alma iria após a morte do corpo físico; ou, simplesmente, a curiosidade natural do homem sobre o desconhecido.
Uma das mais conhecidas comunicações sobre a vida após a morte surgiu nos relatos do espírito André Luiz ao médium Chico Xavier no livro Nosso Lar. Ele se refere à existência de uma cidade completa, no plano espiritual, além de uma região que ficou conhecida como Umbral. Esse plano espiritual se situa próxima à crosta terrestre, e nele o espírito continua possuindo as sensações físicas próprias da vida terrestre, como alterações de temperatura, fome, sede, dificuldade em respirar, etc. Ali é possível comer e beber como fazia quando era vivo.
André Luiz comunicou que, quando se encontrava no Umbral, sentia sono e tentava dormir, mas era acordado por seres monstruosos – “seres animalescos que passavam em bandos” -, e que o acusavam de ter se suicidado, afirmação, a seu ver, incorreta, mas que, mais tarde, entendeu ter sua verdade, uma vez que o tempo que ele poderia ter vivido na Terra foi encurtado devido aos excessos que cometera aqui.
Nesse lugar, o espírito de André Luiz viu loucura, risos exagerados, gritos desesperados, e fez de tudo para sair dali. Vendo-se preso em um lugar sombrio, ele pediu ao “Supremo Autor da Natureza” – pois não era seguidor de qualquer religião em vida – que o ajudasse. Assim, conseguiu enxergar entidades prontas para auxiliá-lo, contatando que a fé é uma manifestação divina do homem. Posteriormente, soube que existia cachorros e aves de corpos volumosos (íbis viajores) – pássaros devoradores de formas mentais perversas – que ajudavam no transporte dos espíritos para fora do Umbral.
André foi levado a um lugar muito parecido com os hospitais da Terra. Lá, foi acolhido por Clarêncio, um homem que “se apoiava em um cajado de substancia luminosa”. Pôde então entender que as vaidades da experiência humana mataram seu corpo físico, sendo, pois, considerado um suicida. Depois, ficou sabendo que o hospital onde estava era apenas um dos muitos que haviam naquele lugar, todos com a finalidade de tratar os males que as pessoas traziam de suas vidas anteriores, assim como curar as males causados por suas próprias ações na sua última vida.
Ele verificou que sua percepção visual e auditiva era muito maior. Clarêncio lhe explicou que o Sol – assim como a Lua e as estrelas – que ali iluminava, era o mesmo que ilumina a Terra, pois o lugar estava situado em esferas espirituais vizinhas ao nosso planeta.
André estava em Nosso Lar, uma espécie de cidade espiritual. Ao longo da narrativa, esse local é descrito de forma detalhada, assim como os acontecimentos e sensações pelas quais esse espírito passou.
Para a recuperação inicial de sua alma – após ter passado oito anos, segundo calendário da Terra, na escuridão do Umbral -, ele é examinado por um médico e recebe caldos, água portadora de fluidos divinos e passes magnéticos. Tudo que é relatado é semelhante a uma vida absolutamente normal além da morte; porém, as vibrações do ambiente são outras. Há vibrações de paz e alegria por todos os lados, e a renovação das energias é feita essencialmente através da natureza.
GRANDIOSOS EDIFÍCIOS,
Espaços regulares e ordenados, formas diversas, casinhas cercadas de muros de hera, parques, animais domésticos, e todos os lugares repletos de muito verde; assim é descrito o Nosso Lar. Há, ainda, grandes fábricas de preparação de sucos, de tecidos e artefatos em geral, que dão trabalho a mais de cem mil criaturas.
A ordem dessa “zona de transição” procede do mundo superior, sendo coordenada por um governador. O governador, que em 1939 – ano em que André é acolhido em Nosso Lar – completava o 114° aniversário de sua direção, conta com mais de três mil funcionários na administrarão da Governadoria, tendo mais fieis ministérios. Os espíritos que habitam o Nosso Lar aprenderam a prática dá divisão das tarefas administrativas em “departamentos espirituais”, por meio de visitas aos serviços da Alvorada, uma das colônias espirituais mais importantes que os circuvizinham.
Cada ministério é auxiliado por doze ministros. O Ministério do Auxilio é responsável por atender os doentes, ouvir e selecionar as preces, preparar reencarnações terrenas, socorrer as almas que se encontram no Umbral e as que choram na Terra; os Ministérios da Regeneração, da Comunicação e do Esclarecimento entre outras coisas cuidam, respectivamente, de regeneração de almas, da comunicação de Nosso Lar com a Terra e com o plano superior, e do esclarecimento da vida. Os Ministérios da Elevação e o da União Divina possuem uma estreita ligação com o plano superior e realizam os serviços mais sublimes.
A governadoria se encontra no centro da praça principal dessa cidade espiritual e é a partir dela que estão distribuídos os outros seis ministérios, de forma triangular.
Segundo André Luiz, o Nosso Lar é apensa umas das muitas colônias espirituais existentes. Cada uma apresenta particularidades essenciais e permanecem em graus diferentes de ascensão, tal como aqui na Terra, onde há sociedades bem diferentes. Essa colônia, particularmente, é uma antiga fundação de portugueses desencarnados no Brasil no século 16. Esses portugueses se tornaram missionários da criação do Nosso Lar.
André ouviu inúmeras histórias por lá, contadas por moradores mais antigos. Uma delas é sobre a alimentação na cidade, que antigamente dava brechas para a sustentação de vícios terrenos. Os alimentos terrenos eram adquiridos no Umbral; dessa forma, os espíritos que ali se encontravam viam uma abertura para chegar ao Nosso Lar. A cidade acabou sofrendo uma tentativa de invasão pela multidões obscuras, obrigando a Governadoria a reduzir a alimentação à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da respiração e de água misturada a elementos solares, elétricos e magnéticos – seguindo as Leis da Simplicidade.
A água utilizada ali – tanto como o alimento quanto como remédio – vem do Bosque da Águas; ela é mais tênue e pura que a da Terra, quase fluida, pois a densidade é diferente. Sua magnetização e distribuição são feitas pelo Ministério da União Divina, sendo essa atividade um dos únicos serviços materiais exercidos por ele.
Há também os Serviço de Trânsito e de Transporte, que age como o serviço de transito daqui da Terra, porém, com um meio de transporte muito diferente: o aerobus, que é um grande carro aéreo, suspenso do solo a uma altura de mais ou menos cinco metros, e que pode transportar muitos passageiros com grande velocidade. Segundo André, ele é constituído de material muito flexível, é bastante extenso e parece estar ligado a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas que se localizam na parte de cima – podendo ser comparado, em nosso planeta, a funicular (transporte utilizado em aclives e declives fortes, com a tração funcionando por meio de cabos).
Há também lugares reservados para a educação, estudos e conferências; são os chamados “salões verdes”. Eles se localizam nos parques do Ministério do Esclarecimento, dentro de um castelo de vegetação em forma de estrela. Os moradores do Nosso Lar acreditam que os estudos formam a base justa para a resolução de problemas e que, com os espíritos reunidos, compartilhando opiniões e experiências, são capazes de tomar decisões sem se converterem a opiniões pessoais.
Já recuperado e mais bem disposto, André sai do hospital e se instala na casa da família espiritual do amigo e auxiliar de sua recuperação, Lísias. Ali, aprende a valorizar ainda mais o lar através dos ensinamentos da mãe de Lísias.
O lar na Terra é muito semelhante ao do Nosso Lar, ou melhor, como é dito a André: “o lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar esse instituto doméstico”. Porem, os casais terrestres muitas vezes se deixam ser invadidos pelo ciúme, pelo egoísmo e pelas vaidades pessoais, deixando para trás o sentido real do lar.
D. Laura, amãe de Lísias, explicou a André que “o lar é como um ângulo reto nas linhas do plano da evolução (...) O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável”. Diz também que nele as pessoas devem se unir espiritualmente antes que corporalmente, e viver com todo o coração e com toda a alma.
O casamento espiritual é realizado através da combinação vibratória, da afinidade máxima, não uma união que vai se desgastando com o tempo, como ocorre muitas vezes na Terra. O Nosso Lar defende o equilíbrio através do amor e, a partir desse sentimento, homens, e mulheres realizam suas funções e compartilham experiências.
André, em meio a tantos ensinamentos e com a disposição renovada, começa a sentir necessidade de voltar a trabalhar – era médico na Terra. E como “quando alguém deseja algo ardentemente, já se encontra a caminho da realização”, ele foi aceito no auxílio aos enfermos, não como médico, pois ainda não poderia ocupar tal função em Nosso Lar, mas como um aprendiz.
O trabalho nessa cidade é tal qual na Terra. Existe uma jornada de trabalho, com descanso obrigatório. O pagamento, evidentemente, não é nada material como em nosso mundo, mas uma espécie de experiência em determinadas áreas, o que auxilia no crescimento do espírito; ganha-se também o bônus-hora.
O bônus-hora é uma ficha de serviço individual e funciona como valor aquisitivo. A produção de vestuário e alimentação pertence a todos em comum, assim como engrandecimento do patrimônio; os que trabalham adquirem direitos justos, o que lhes permite escolher o que querem usar e aonde querem ir.
A propriedade é relativa, e sua aquisição é feita à base de horas de trabalho. As construções representam patrimônio comum nessa cidade, sob controle da Governadoria. Cada família espiritual pode adquirir somente um lar, apresentando 30 mil bônus-hora, o que pode ser conseguido com algum tempo de trabalho.
Os trabalhos manuais, pesados ou com sacrifícios pessoas têm seu reconhecimento multiplicado, diferentemente da Terra. André é informado que, muitas vezes, os milionários terrenos são mendigos de alma, pois o verdadeiro ganho para as criaturas é de natureza espiritual.
Os bônus-hora podem ser gastos, porém no Nosso Lar é mais valioso o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que confere aos trabalhadores o direito a títulos preciosos; quanto maior for esse número, mais intercessões poderão ser feitas por essa criatura em relação à elevação e defesa da alma. A herança nessa cidade é apensa a do lar, nunca a de bônus-hora.
André explica que dessa cidade não se ouvem vozes da Terá; as transmissões são feitas através de forças vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta – as vibrações do pensamento. Ele fica sabendo que, no inicio da colônia, as vozes terrenas podiam ser ouvidas; porém, boatos assustadores e problemas pertubavam as atividades em geral, provocando muita indisciplina em Nosso Lar. Para manter a ordem, há dois séculos, um dos ministros da União Divina havia pedido que alguma atitude fosse tomada para melhorar a situação, valendo-se dos ensinamentos de Jesus, que manda os vivos enterrar seus mortos e, desde então, a comunicação passou a ser à base de vibrações.
O esforço de cad um em seu trabalho contribui para as vibrações de paz dentro dessa colônia e em geral, depois de certo tempo de serviço e aprendizado, os espíritos voltam a reencarnar para atividades de aperfeiçoamento.
Nessa cidade espiritual também existe uma seção de arquivos onde estão guardadas anotações particulares de cada um – as lembranças. Conforme o espírito desenvolve segurança em si mesmo, são permitidas as lembranças de outras vidas. André é avisado de que essas lembranças apenas informam, sendo necessário, para o conhecimento profundo de seu espírito, muita meditação e passes no cérebro, que ajudariam a despertar energias adormecidas.
Segundo os relatos de André, a morte do corpo conduz o homem a situações miraculosas. O espírito está constantemente em processo evolutivo e, portanto, passará por inúmeros planos e pelas múltiplas regiões para o desencarnados, obedecendo a princípios de desenvolvimento natural e a uma hierarquia considerada justa. E é imprescindível o reconhecimento de apenas um Deus.
Em certo momento do relato de André há uma crítica às igrejas e aos sacerdotes políticos, justificando que, sem o sopro divino, as personalidades religiosas não serão capazes de inspirar respeito, admiração, fé e confiança em seus seguidores. O Espiritismo, sendo uma religião que une o amor às ciências do espírito, surge e cresce como uma esperança e um consolo para a humanidade.
Dentro dessa doutrina, o espírito é tratado como um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre ainda não é capaz de compreender.
Segundo os moradores da colônia espiritual, quando desencarnados, os espíritos que não tiveram uma preparação religiosa no mundo sofrem dolorosas perturbações (como as que André sofrera nos primeiros anos após a morte de seu corpo físico). Eles ficam presos no Umbral, separados dos homens encarnados pelas leis vibratórias; lá, espíritos semelhantes se agrupam conforme o tipo de vibrações que vivenciam.
Em Nosso Lar, os espíritos são capazes de se reconhecer e se encontrar. André se encontrou algumas vezes com sua mãe, que continuava intercedendo por ele; reconheceu um homem a quem seu pai prejudicara e teve a oportunidade de pedir perdão; viu uma mulher que fora empregada de sua casa, acabou na vida de prostituição e agora experimentava muito sofrimento e dor. Ele, também, ainda sentia saudade da família terrena, pois, como lhe foi explicado, cada organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.
Muitas vezes, os que perdem um ente querido, na Terra, permanecem com seu pensamento focalizado nesses entes, de forma que acabam prejudicando sua evolução e fazendo-os sofrer com as lembranças. Assim, a esses encarnados são conferidas outras preocupações, para que deixem de pensar no espírito que já desencarnou.
André relata a existência de regiões ainda inferiores ao Umbral: as Trevas. Para lá vão as almas que fecham sua percepção, focando apenas em si mesmas, deixando de lado a visão e a compreensão do Deus único, estacionando no tempo e “sobrevivendo” em um sono de longos anos, vivendo apenas com as recapitulações de experiências vividas.
Ele também fala sobre a existência de fantasmas. Estes são “irmãos da Terra, poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente por lá”. Eles se diferenciam dos espíritos já desencarnados pelos filamentos pendidos dos braços e um fio da cabeça, e “sobem” ao Nosso Lar em missões secretas.
No mundo todo, nas mais diversas épocas, surgiram inúmeros relatos de cidades que se situariam no mundo espiritual, ou numa dimensão paralela, como preferem alguns pesquisadores. No entanto, poucos são tão ricos e impressionantes em detalhes quanto o de André Luiz.
(Revista Espiritismo e Ciência 11, páginas 24-29)
Uma das mais conhecidas comunicações sobre a vida após a morte surgiu nos relatos do espírito André Luiz ao médium Chico Xavier no livro Nosso Lar. Ele se refere à existência de uma cidade completa, no plano espiritual, além de uma região que ficou conhecida como Umbral. Esse plano espiritual se situa próxima à crosta terrestre, e nele o espírito continua possuindo as sensações físicas próprias da vida terrestre, como alterações de temperatura, fome, sede, dificuldade em respirar, etc. Ali é possível comer e beber como fazia quando era vivo.
André Luiz comunicou que, quando se encontrava no Umbral, sentia sono e tentava dormir, mas era acordado por seres monstruosos – “seres animalescos que passavam em bandos” -, e que o acusavam de ter se suicidado, afirmação, a seu ver, incorreta, mas que, mais tarde, entendeu ter sua verdade, uma vez que o tempo que ele poderia ter vivido na Terra foi encurtado devido aos excessos que cometera aqui.
Nesse lugar, o espírito de André Luiz viu loucura, risos exagerados, gritos desesperados, e fez de tudo para sair dali. Vendo-se preso em um lugar sombrio, ele pediu ao “Supremo Autor da Natureza” – pois não era seguidor de qualquer religião em vida – que o ajudasse. Assim, conseguiu enxergar entidades prontas para auxiliá-lo, contatando que a fé é uma manifestação divina do homem. Posteriormente, soube que existia cachorros e aves de corpos volumosos (íbis viajores) – pássaros devoradores de formas mentais perversas – que ajudavam no transporte dos espíritos para fora do Umbral.
André foi levado a um lugar muito parecido com os hospitais da Terra. Lá, foi acolhido por Clarêncio, um homem que “se apoiava em um cajado de substancia luminosa”. Pôde então entender que as vaidades da experiência humana mataram seu corpo físico, sendo, pois, considerado um suicida. Depois, ficou sabendo que o hospital onde estava era apenas um dos muitos que haviam naquele lugar, todos com a finalidade de tratar os males que as pessoas traziam de suas vidas anteriores, assim como curar as males causados por suas próprias ações na sua última vida.
Ele verificou que sua percepção visual e auditiva era muito maior. Clarêncio lhe explicou que o Sol – assim como a Lua e as estrelas – que ali iluminava, era o mesmo que ilumina a Terra, pois o lugar estava situado em esferas espirituais vizinhas ao nosso planeta.
André estava em Nosso Lar, uma espécie de cidade espiritual. Ao longo da narrativa, esse local é descrito de forma detalhada, assim como os acontecimentos e sensações pelas quais esse espírito passou.
Para a recuperação inicial de sua alma – após ter passado oito anos, segundo calendário da Terra, na escuridão do Umbral -, ele é examinado por um médico e recebe caldos, água portadora de fluidos divinos e passes magnéticos. Tudo que é relatado é semelhante a uma vida absolutamente normal além da morte; porém, as vibrações do ambiente são outras. Há vibrações de paz e alegria por todos os lados, e a renovação das energias é feita essencialmente através da natureza.
GRANDIOSOS EDIFÍCIOS,
Espaços regulares e ordenados, formas diversas, casinhas cercadas de muros de hera, parques, animais domésticos, e todos os lugares repletos de muito verde; assim é descrito o Nosso Lar. Há, ainda, grandes fábricas de preparação de sucos, de tecidos e artefatos em geral, que dão trabalho a mais de cem mil criaturas.
A ordem dessa “zona de transição” procede do mundo superior, sendo coordenada por um governador. O governador, que em 1939 – ano em que André é acolhido em Nosso Lar – completava o 114° aniversário de sua direção, conta com mais de três mil funcionários na administrarão da Governadoria, tendo mais fieis ministérios. Os espíritos que habitam o Nosso Lar aprenderam a prática dá divisão das tarefas administrativas em “departamentos espirituais”, por meio de visitas aos serviços da Alvorada, uma das colônias espirituais mais importantes que os circuvizinham.
Cada ministério é auxiliado por doze ministros. O Ministério do Auxilio é responsável por atender os doentes, ouvir e selecionar as preces, preparar reencarnações terrenas, socorrer as almas que se encontram no Umbral e as que choram na Terra; os Ministérios da Regeneração, da Comunicação e do Esclarecimento entre outras coisas cuidam, respectivamente, de regeneração de almas, da comunicação de Nosso Lar com a Terra e com o plano superior, e do esclarecimento da vida. Os Ministérios da Elevação e o da União Divina possuem uma estreita ligação com o plano superior e realizam os serviços mais sublimes.
A governadoria se encontra no centro da praça principal dessa cidade espiritual e é a partir dela que estão distribuídos os outros seis ministérios, de forma triangular.
Segundo André Luiz, o Nosso Lar é apensa umas das muitas colônias espirituais existentes. Cada uma apresenta particularidades essenciais e permanecem em graus diferentes de ascensão, tal como aqui na Terra, onde há sociedades bem diferentes. Essa colônia, particularmente, é uma antiga fundação de portugueses desencarnados no Brasil no século 16. Esses portugueses se tornaram missionários da criação do Nosso Lar.
André ouviu inúmeras histórias por lá, contadas por moradores mais antigos. Uma delas é sobre a alimentação na cidade, que antigamente dava brechas para a sustentação de vícios terrenos. Os alimentos terrenos eram adquiridos no Umbral; dessa forma, os espíritos que ali se encontravam viam uma abertura para chegar ao Nosso Lar. A cidade acabou sofrendo uma tentativa de invasão pela multidões obscuras, obrigando a Governadoria a reduzir a alimentação à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da respiração e de água misturada a elementos solares, elétricos e magnéticos – seguindo as Leis da Simplicidade.
A água utilizada ali – tanto como o alimento quanto como remédio – vem do Bosque da Águas; ela é mais tênue e pura que a da Terra, quase fluida, pois a densidade é diferente. Sua magnetização e distribuição são feitas pelo Ministério da União Divina, sendo essa atividade um dos únicos serviços materiais exercidos por ele.
Há também os Serviço de Trânsito e de Transporte, que age como o serviço de transito daqui da Terra, porém, com um meio de transporte muito diferente: o aerobus, que é um grande carro aéreo, suspenso do solo a uma altura de mais ou menos cinco metros, e que pode transportar muitos passageiros com grande velocidade. Segundo André, ele é constituído de material muito flexível, é bastante extenso e parece estar ligado a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas que se localizam na parte de cima – podendo ser comparado, em nosso planeta, a funicular (transporte utilizado em aclives e declives fortes, com a tração funcionando por meio de cabos).
Há também lugares reservados para a educação, estudos e conferências; são os chamados “salões verdes”. Eles se localizam nos parques do Ministério do Esclarecimento, dentro de um castelo de vegetação em forma de estrela. Os moradores do Nosso Lar acreditam que os estudos formam a base justa para a resolução de problemas e que, com os espíritos reunidos, compartilhando opiniões e experiências, são capazes de tomar decisões sem se converterem a opiniões pessoais.
Já recuperado e mais bem disposto, André sai do hospital e se instala na casa da família espiritual do amigo e auxiliar de sua recuperação, Lísias. Ali, aprende a valorizar ainda mais o lar através dos ensinamentos da mãe de Lísias.
O lar na Terra é muito semelhante ao do Nosso Lar, ou melhor, como é dito a André: “o lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar esse instituto doméstico”. Porem, os casais terrestres muitas vezes se deixam ser invadidos pelo ciúme, pelo egoísmo e pelas vaidades pessoais, deixando para trás o sentido real do lar.
D. Laura, amãe de Lísias, explicou a André que “o lar é como um ângulo reto nas linhas do plano da evolução (...) O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável”. Diz também que nele as pessoas devem se unir espiritualmente antes que corporalmente, e viver com todo o coração e com toda a alma.
O casamento espiritual é realizado através da combinação vibratória, da afinidade máxima, não uma união que vai se desgastando com o tempo, como ocorre muitas vezes na Terra. O Nosso Lar defende o equilíbrio através do amor e, a partir desse sentimento, homens, e mulheres realizam suas funções e compartilham experiências.
André, em meio a tantos ensinamentos e com a disposição renovada, começa a sentir necessidade de voltar a trabalhar – era médico na Terra. E como “quando alguém deseja algo ardentemente, já se encontra a caminho da realização”, ele foi aceito no auxílio aos enfermos, não como médico, pois ainda não poderia ocupar tal função em Nosso Lar, mas como um aprendiz.
O trabalho nessa cidade é tal qual na Terra. Existe uma jornada de trabalho, com descanso obrigatório. O pagamento, evidentemente, não é nada material como em nosso mundo, mas uma espécie de experiência em determinadas áreas, o que auxilia no crescimento do espírito; ganha-se também o bônus-hora.
O bônus-hora é uma ficha de serviço individual e funciona como valor aquisitivo. A produção de vestuário e alimentação pertence a todos em comum, assim como engrandecimento do patrimônio; os que trabalham adquirem direitos justos, o que lhes permite escolher o que querem usar e aonde querem ir.
A propriedade é relativa, e sua aquisição é feita à base de horas de trabalho. As construções representam patrimônio comum nessa cidade, sob controle da Governadoria. Cada família espiritual pode adquirir somente um lar, apresentando 30 mil bônus-hora, o que pode ser conseguido com algum tempo de trabalho.
Os trabalhos manuais, pesados ou com sacrifícios pessoas têm seu reconhecimento multiplicado, diferentemente da Terra. André é informado que, muitas vezes, os milionários terrenos são mendigos de alma, pois o verdadeiro ganho para as criaturas é de natureza espiritual.
Os bônus-hora podem ser gastos, porém no Nosso Lar é mais valioso o registro individual da contagem de tempo de serviço útil, que confere aos trabalhadores o direito a títulos preciosos; quanto maior for esse número, mais intercessões poderão ser feitas por essa criatura em relação à elevação e defesa da alma. A herança nessa cidade é apensa a do lar, nunca a de bônus-hora.
André explica que dessa cidade não se ouvem vozes da Terá; as transmissões são feitas através de forças vibratórias mais sutis que as da esfera da crosta – as vibrações do pensamento. Ele fica sabendo que, no inicio da colônia, as vozes terrenas podiam ser ouvidas; porém, boatos assustadores e problemas pertubavam as atividades em geral, provocando muita indisciplina em Nosso Lar. Para manter a ordem, há dois séculos, um dos ministros da União Divina havia pedido que alguma atitude fosse tomada para melhorar a situação, valendo-se dos ensinamentos de Jesus, que manda os vivos enterrar seus mortos e, desde então, a comunicação passou a ser à base de vibrações.
O esforço de cad um em seu trabalho contribui para as vibrações de paz dentro dessa colônia e em geral, depois de certo tempo de serviço e aprendizado, os espíritos voltam a reencarnar para atividades de aperfeiçoamento.
Nessa cidade espiritual também existe uma seção de arquivos onde estão guardadas anotações particulares de cada um – as lembranças. Conforme o espírito desenvolve segurança em si mesmo, são permitidas as lembranças de outras vidas. André é avisado de que essas lembranças apenas informam, sendo necessário, para o conhecimento profundo de seu espírito, muita meditação e passes no cérebro, que ajudariam a despertar energias adormecidas.
Segundo os relatos de André, a morte do corpo conduz o homem a situações miraculosas. O espírito está constantemente em processo evolutivo e, portanto, passará por inúmeros planos e pelas múltiplas regiões para o desencarnados, obedecendo a princípios de desenvolvimento natural e a uma hierarquia considerada justa. E é imprescindível o reconhecimento de apenas um Deus.
Em certo momento do relato de André há uma crítica às igrejas e aos sacerdotes políticos, justificando que, sem o sopro divino, as personalidades religiosas não serão capazes de inspirar respeito, admiração, fé e confiança em seus seguidores. O Espiritismo, sendo uma religião que une o amor às ciências do espírito, surge e cresce como uma esperança e um consolo para a humanidade.
Dentro dessa doutrina, o espírito é tratado como um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre ainda não é capaz de compreender.
Segundo os moradores da colônia espiritual, quando desencarnados, os espíritos que não tiveram uma preparação religiosa no mundo sofrem dolorosas perturbações (como as que André sofrera nos primeiros anos após a morte de seu corpo físico). Eles ficam presos no Umbral, separados dos homens encarnados pelas leis vibratórias; lá, espíritos semelhantes se agrupam conforme o tipo de vibrações que vivenciam.
Em Nosso Lar, os espíritos são capazes de se reconhecer e se encontrar. André se encontrou algumas vezes com sua mãe, que continuava intercedendo por ele; reconheceu um homem a quem seu pai prejudicara e teve a oportunidade de pedir perdão; viu uma mulher que fora empregada de sua casa, acabou na vida de prostituição e agora experimentava muito sofrimento e dor. Ele, também, ainda sentia saudade da família terrena, pois, como lhe foi explicado, cada organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo.
Muitas vezes, os que perdem um ente querido, na Terra, permanecem com seu pensamento focalizado nesses entes, de forma que acabam prejudicando sua evolução e fazendo-os sofrer com as lembranças. Assim, a esses encarnados são conferidas outras preocupações, para que deixem de pensar no espírito que já desencarnou.
André relata a existência de regiões ainda inferiores ao Umbral: as Trevas. Para lá vão as almas que fecham sua percepção, focando apenas em si mesmas, deixando de lado a visão e a compreensão do Deus único, estacionando no tempo e “sobrevivendo” em um sono de longos anos, vivendo apenas com as recapitulações de experiências vividas.
Ele também fala sobre a existência de fantasmas. Estes são “irmãos da Terra, poderosos espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente por lá”. Eles se diferenciam dos espíritos já desencarnados pelos filamentos pendidos dos braços e um fio da cabeça, e “sobem” ao Nosso Lar em missões secretas.
No mundo todo, nas mais diversas épocas, surgiram inúmeros relatos de cidades que se situariam no mundo espiritual, ou numa dimensão paralela, como preferem alguns pesquisadores. No entanto, poucos são tão ricos e impressionantes em detalhes quanto o de André Luiz.
(Revista Espiritismo e Ciência 11, páginas 24-29)