A MEDIUNIDADE ATRAVÉS DOS TEMPOS

Introdução

Estudando as civilizações da Terra, vamos observar que a mediu­nidade tem-se manifestado, em todos os tempos e em todos os lugares, desde as mais remotas épocas. A crença na imortalidade da alma e a possibilidade da comunicação entre os "vivos" e os "mortos" sempre existiu.
Ao observarmos o passado, evocando a lembrança das religiões desaparecidas, das crenças mortas, veremos que todas elas tinham um ensinamento dúplice: um exterior ou público, com suas cerimônias bi­zarras, rituais e mitos, e outro interior ou secreto revestido de um caráter profundo e elevado. Os aspectos exteriores eram levados ao povo de um modo geral, enquanto que o aspecto interior era revelado apenas a indivíduos especiais. Chamados "iniciados" por algumas reli­giões, estes eram preparados desde a infância, às vezes por 20 a 30 anos.
Julgar uma religião, apenas levando em consideração o seu as­pecto exterior, será o mesmo que apreciar o valor moral de uma pessoa por suas vestes. Analisando o aspecto interior destas religiões, ob­servaremos que todos os ensinamentos estão ligados entre si como uma única doutrina básica, que os homens trazem intuitivamente, desde um passado longínquo. Vamos observar alguns aspectos interessantes das religiões do passado.

Índia

Na Índia, berço de todas as religiões da Humanidade, temos o Livro dos Vedas, datado de aproximadamente 1.500 a.C., que tem sido re­conhecido como o mais antigo código religioso da Humanidade; são qua­tro livros cujo conteúdo principal são cânticos de louvor. Os Brâmanes, seguidores dos Vedas, acreditam que este código religioso foi ditado por BRAHMA. Nos Vedas encontramos afirmati­vas claras sobre imortalidade da alma e a recriação:
"Há uma parte imortal no Homem, o AGNI, ela é que é preciso rescal­dar com teus raios, inflamar com os teus fogos(...).
(...)Assim como se deixam as vestes gastas, para usar novas vestes, também a alma deixa o corpo usado para recobrir novos corpos."
Ainda na Índia, encontramos KRISHNA, educado por ascetas nas florestas do cume do Himalaia, inspirador de uma doutrina religiosa, na verdade um reformulador da Doutrina Védica. Deixa claro a idéia da imortalidade da alma, as reencarnações sucessivas, e a possibilidade de comunicação entre vivos e mortos:
"O corpo envoltório da alma, que nele faz sua morada, é uma coisa finita, porém a alma que o habita é invisível, imponderável e eterna."
"Todo renascimento feliz ou infeliz é conseqüência das obras prati­cadas em vidas anteriores."
Estes são alguns aspectos dos ensinamentos de KRISHNA, que po­dem ser encontrados nos livros sagrados, conservados nos santuários ao sul do Industão.
Também na Índia, 600 a.C., vamos encontrar Siddartha Gautama, o Buda, filho de um rei da Índia, que certo dia saindo do castelo, onde até então vivera, tem contato com o sofrimento humano e, sendo tomado de grande tristeza, refugia-se nas florestas frias do Himalaia e, de­pois de aproximadamente 15 anos de meditação, retorna trazendo para a Humanidade uma nova crença, toda baseada na caridade e no amor:
"Enquanto não conquistar o progresso (Nirvana) o ser está condenado a cadeia das existências terrestres."
"Todos os Homens são destinados ao Nirvana."
Buda e seus discípulos praticavam o Dhyana, ou seja, a contem­plação aos mortos:
"Durante este estado, o Espírito entra em comunicação com as almas que já deixaram a Terra."

Egito

No Egito, o culto aos mortos foi muito praticado. As Ciências psíquicas atuais eram familiares aos sacerdotes da época; o conheci­mento das formas fluídicas e do magnetismo eram comuns. O destino da alma, a comunicação com os mortos, a pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos. Egiptólogos modernos, estudando as pirâmides, os túmulos dos faraós, os papiros, deixam claro todos estes aspectos reconhecendo a grande sabedoria deste povo. Como em outras religiões, apenas os iniciados conheciam as grandes verdades, o povo, por interesse de po­der dos soberanos, praticamente mantinha-se ignorante a este respeito.

China

Na China, vamos encontrar Lao-Tsé e Confúcio, 600 a 400 a.C., que com os seus discípulos (iniciados), mantinham no culto dos ante­passados a base de sua fé. Neste culto, a idéia da imortalidade e a possibilidade da evocação dos mortos era clara.

Israel

Cerca de 15 séculos antes de Cristo, Moisés, o grande legisla­dor hebreu, observando a ignorância e o despreparo de seu povo, pro­cura através de uma lei disciplinar, educar os hebreus com relação a evocação dos mortos. Se houve esta proibição, é claro que a evocação dos mortos era comum entre este povo da Antiguidade. Moisés assim se referiu:
"Que ninguém use de sortilégio e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a verdade."
Não havia chegado o momento para tais revelações.
Estudando a vida de Moisés, vemos que ele era possuidor de uma mediunidade fabulosa que possibilitou o recebimento dos "Dez Mandamen­tos", no Sinai, que até hoje representa a base dos códigos de moral e ética no mundo.

Grécia

Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Vários filósofos, desta progressista civilização, se referem a estes fatos: Pitágoras (600 a.C.) Astófanes, Sófocles (400 a.C.) e a maravilhosa figura de Sócrates (400 a.C.). A idéia da unicidade de Deus, da pluralidade dos mundos habitados e da multiplicidade das existências era por eles transmitidas a todos os seus iniciados. Sócrates, o grande filósofo, aureolado por divinas claridades espirituais, tem uma existência que em algumas circunstâncias, aproxima-se da exemplificação do próprio Cristo:
"A alma quando despida do corpo, conserva evidentes, os traços de seu caráter, de suas afeições e as marcas que lhe deixaram todos os atos de sua vida."

Jesus

Jesus, o Médium de Deus, teve sua existência assinalada por fenômenos mediúnicos diversos. O Novo Testamento traz citações claras e belas de mediunidade em suas mais diferentes modalidades.

Idade Média

A Idade Média foi uma época em que o estudo mais profundo da religião era praticado apenas por sociedades ultra-secretas. Milhares de vidas foram sacrificadas sob a acusação de feitiçaria, por evocarem os mortos.
Nesta época, tão triste para a Humanidade, em vários aspectos, podemos citar como uma grande figura, Joana D'arc, que guiando o povo francês, sob orientação de "suas vozes", deixou claro a possibilidade da comunicação entre os vivos e os mortos.

O Espiritismo

Foi no século XIX (1848), na pacata cidade de Hydesville, no estado de New York (EUA), na casa da família Fox, que o fenômeno mediúnico começaria a ser conhecido em todo o mundo.
Chegara o momento em que todos as coisas deveriam ser reestabele­cidas. Foi quando surgiu no cenário terrestre, aquele que deu corpo à Doutrina dos Espíritos: Hippolyte Léon Denizar Rivail, ou ALLAN KARDEC, como ficou conhecido.
Em 1855, com a idade de 51 anos, Kardec iniciou um tra­balho criterioso e científico sobre o fenômeno mediúnico e após alguns anos de estudos sistematizados lançou, em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos; em 1859 - O Que é o Espiritismo; em 1861 - O Livro dos Médiuns; em 1864 - O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865 - O Céu e Inferno e em 1868 - A Gênese.
Graças ao sábio lionês tivemos a Codificação da Doutrina Espí­rita reconhecida como a Terceira Revelação, o Consolador Prometido por Jesus.
Bibliografia
1)  Depois da Morte - Léon Denis
2)  História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle
3)  Allan Kardec - Zeus Wantuil e Francisco Thiesen
3 � o @Tq 0Rn smo, mas porque essas lembranças tocam a sensibilidade dos espíritos. A doutrinação não é uma imposição, não tem a violência das práticas assustadoras do exorcismo. Trata-se de uma técnica persuasiva, tipicamente psicológica, visando desviar a mente dos espíritos doutrinados das idéias fixas a que se apegam obstinadamente. Desviada a orientação mental das imantações ao ódio, à vingança, à perversidade, ou mesmo às intenções sectárias e fanáticas, ou ainda as lembranças da vida que se findou, à lembrança do corpo já transformado em cadáver, a mente do espírito se torna acessível às renovações necessárias que o levarão à normalidade.
Esses problemas não são compreendidos até mesmo, às vezes, por antigos adeptos e praticantes da doutrina. Kardec os explicou reiteradamente, mas muitos espíritas preferem a leitura de livros fantasiosos aos da doutrina e particularmente ao O Livro dos Médiuns, indispensável a todos os que exercem funções doutrinárias ou mediúnicas. Além disso, o estudo doutrinário exige ponderação, reflexão, desejo verdadeiro de penetrar na problemática espírita para compreender, não apenas este ou aquele ponto, mas a profundidade da doutrina, suas implicações com a cultura do nosso tempo e as perspectivas imensas que abre para o futuro humano. Sem esse interesse encarado com dedicação e humildade, os estudantes passam pela doutrina como gatos sobre brasas, saindo apenas chamuscados e, o que é pior, convencidos de que dominaram o assunto.
Num estudo sobre religiões mediúnicas no Brasil, baseado em pesquisas, o Prof. Cândido Procópio de Camargo atrelou as formas do Sincretismo Religioso Afro- Brasileiro ao Espiritismo, propondo a teoria do continuum mediúnico. Esse continuum realmente existe, mas não caracteriza apenas as áreas indicadas. As manifestações mediúnicas são universais e de todos os tempos. Sendo a mediunidade uma faculdade humana decorrente da constituição do homem como espírito e corpo, deu origem as religiões naturais ou primitivas em toda a Terra. Kardec assinala esse fato em suas obras, dando-lhe mas ênfase no O Livro dos Médiuns. As pesquisas de antropólogos ingleses na Austrália e de franceses na África, seguidas dos magistrais estudos de Ernesto Bozzano na Itália provaram a origem única de todas as religiões.
Todas elas nascem e se alimentam dos fatos mediúnicos. Mesmo depois de superadas, pela civilização as fases primitivas, as religiões continuam ligadas às suas raízes mediúnicas e continuam a se alimentar de ocorrências mediúnicas. Nem podia ser de outro modo, pois só na mediunidade, elas encontraram a possibilidade de sustentarem objetivamente os seus princípios. A igreja Católica suspendeu o culto pneumático das igrejas apostólicas, que consistiam nas manifestações dos espíritos (do grego: pneuma) e eliminou o dogma da reencarnação. Mas não conseguiu retirar dos textos sagrados do Judaísmo e dos Evangelhos esse princípio. Interpretações teológicas fizeram o mesmo nas Igrejas da Reforma.
Não obstante, a própria eleição dos Papas Católicos guarda ainda hoje sua ligação com a mediunidade. Formalmente a escolha do novo Papa depende de inspiração do Espírito Santo. Nas Igrejas protestantes e nas seitas do tempo apostólico ainda sobreviventes, a manifestação do espírito faz parte integrante e essencial do culto. As aparições de santos e anjos são consideradas como válidas em todo o mundo cristão, judeu e islâmico. O Corão é um livro psicografado. O exorcismo judeu é feito para afastar o dibuki, alma penada que perturba as criaturas humanas. Todas as religiões antigas, como assinala Kardec, inclusive as mitológicas, com seus oráculos e pitonisas, eram mediúnicas. As seitas japonesas infiltradas no Brasil são tipicamenre mediúnicas ... As práticas indianas da Ioga entremeiam-se de surpreendentes manifestações de espíritos. Os sacramentos das religiões mais refinadas estão carregadas de magia, de heranças mágicas do mediunismo primitivo.
Não se pode fazer uma discriminação de religiões mediúnicas típicas, que não encontre apoio na realidade histórica e antropológica. Proposições discriminatórias só servem para confundir o problema, em que pesem as boas intenções do autor ou autores. Os fenômenos mediúnicos estão por toda parte, embora a mediunidade só tenha alcançado cidadania no mundo civilizado através do Espiritismo e das Ciências Psíquicas por ele provocadas. A psicografla espírita, muito divulgada em todo o mundo, opõe-se a psicografia católica, com alguns volumes já traduzidos entre nós. E, como disse Chico Xavier num programa de televisão de grande audiência, o próprio Moisés psicografou no Sinai as Tábuas da Lei.

J. Herculano Pires