Estudo da mediunidade


Existe mediunidade inconsciente?

Divaldo Franco – Sem dúvida. Kardec classificava os médiuns, genericamente, em dois tipos: seguros e inseguros. Dentro dessa classificação, os seguros são aqueles que filtram com fidelidade a mensagem, aqueles que são automáticos, sonambúlicos, inconscientes, portanto, por meio dos quais o fenômeno ocorre dentro de um clima de profundidade, sem que a consciência atual tome conhecimento.

Podem ser os médiuns conscientes, semiconscientes e inconscientes. Quanto às suas aptidões e qualidades morais, eles têm vasta classificação.

- Tem o médium inconsciente responsabilidade pelo que ocorra durante as comunicações?

Divaldo Franco – O fenômeno é sonambúlico, mas a comunicação está relacionada com a conduta moral do médium. Este é sempre responsável pelas ocorrências, assim como em muitas obsessões, quando o indivíduo entra numa faixa de subjugação e perde a consciência, ele parece não ser responsável pelo que se passa; no entanto, o é por haver sintonizado com aquele espírito que o dominou temporariamente.

Está no Evangelho de Jesus o assunto colocado de uma maneira brilhante pelo Mestre quando diz aos recém-liberados: “Vai e não tornes a pecar, para que te não aconteça algo pior”. Porque o indivíduo que não se modifica permanece numa faixa vibratória negativa e sintoniza com as entidades mais inditosas, portanto, semelhantes.

Colocando-nos no plano da mediunidade, a nossa vivência moral digna interdita o intercâmbio com as entidades frívolas.

As entidades malévolas dificilmente se adentram na Casa Espírita que tem um padrão vibratório nobre, porque as defesas impedem que tais espíritos rompam as barreiras magnéticas. Mas, a pessoa que se adentra sem o perseguidor deverá reformar-se enquanto está no ambiente espiritual. O que ocorre então? Tal indivíduo, ao invés de acompanhar o doutrinador, de observar e meditar a respeito das lições que lhe são ministradas, por uma viciação mental continua com os mesmos clichês que trouxe lá de fora, ficando dentro do Centro, porém ligado aos espíritos com os quais se afina, mantendo vinculação hipnótica, telepática.

Há pessoas que não conseguem orar, e, quando vão orar, ocorrem-lhes pensamentos de teor vibratório muito baixo. Na hora da prece são assistidas essas pessoas por lembranças de coisas desagradáveis vulgares, sensuais, e não sabem compreender como isso lhes sucede. É resultado de hábito mental.

Se nós, a vida inteira, jogamos para o inconsciente idéias depressivas, vulgaridades, criamos ideoplastias perniciosas. A nossa memória anterior ou subconsciente fica encharcada daquelas fixações. Na hora em que vamos exercitar um pensamento ao qual não estamos habituados, é lógico que, primeiro, aflorem os que são frequentes.

Ilustraremos melhor:

Imaginemos aqui um vaso comunicante em forma de letra “U”. De repente vamos orar ou sintonizar com os espíritos nobres. Pelo superconsciente vem a ideia, passa pelo consciente e desce ao inconsciente. Ao passar por ali recebe o enxerto das ideias arquivadas e chega novamente à razão, influenciada pela mescla do que está em depósito. Se pegamos um vaso que está com fuligem, com poeira e colocamos água limpa, ela entra cristalina, porém sai suja, até que, se perseverarmos e continuarmos colocando água limpa, ela irá assear aquele depósito e sairá, por fim, como entrou. É necessário, então, porfiar na ideia, insistir nos planos positivos, permanecer nos pensamentos superiores.

Somos sempre responsáveis por quaisquer comunicações, desde que somos o fator que atrai a entidade que se vai apresentar, graças às nossas vibrações e conduta intelecto-moral.

- Há médiuns inconscientes que, após a manifestação do espírito, não se recordam do que o comunicante disse ou fez por seu intermédio?

Divaldo Franco – Sim. Há e ocorre com uma boa parcela dos sensitivos. À medida que a faculdade se torna maleável, que os filtros se fazem mais fiéis, o médium não se recorda através da consciência plena, mas ele sabe algo, porque todo fenômeno mediúnico se dá mediante uma co-participação do espírito encarnado.

- Essa co-participação seria um controle remoto do subconsciente?

Divaldo Franco – Exatamente. O espírito encarnado é quem côa a mensagem da entidade desencarnada. Então, ao mesmo tempo, exerce a fiscalização, o controle, e coíbe, quando devidamente educado, quaisquer abusos, preservando o instrumento de sua reencarnação, que é o corpo.

- Quer dizer que, no fundo, é sempre o médium o responsável, mesmo que tenha faculdade inconsciente, por aquilo que vem através dele?

Divaldo Franco – Daí dizer-se que “em todo fenômeno mediúnico há um efeito anímico, assim como em todo fenômeno anímico há uma expressão mediúnica”. Por melhor que seja o pianista, o som é sempre do piano.

Retirado do livro “Diretrizes de Segurança”
Por Divaldo P. Franco e J. Raul Teixeira