Libertação dos Conteúdos Negativos
(Joanna de Ângelis)
Graças ao atavismo predominante em sua natureza, o homem guarda as primeiras expressões da consciência em nível inferior, no qual confunde o eu com o objeto, e a sua é somente uma percepção sensorial.
A identificação com o próprio corpo propicia-lhe uma consciência orgânica, deformada, de que se libera a pouco e pouco, avançando para a transferência desse conteúdo para outro nível de discernimento e direcionamento.
No processo de evolução, porque estagia nas faixas do instinto que o submete, vai adquirindo outros valores, sem desidentificar-se dos conteúdos fixados, em razão dos quais a marcha se lhe torna muito lenta.
De forma penosa, não raro, a libertação dos conteúdos negativos — paixões dissolventes, apegos, ilusões, sentimentos inferiores — faculta os anseios pelas conquistas de outros níveis, nos quais o bem-estar e a paz formam os novos hábitos, a nova natureza do ser.
A Psicologia tradicional, considerando patológicos os níveis superiores, define cada um deles com nomenclatura especial, por desinteresse de penetrar nos estados alterados da consciência, que levariam à constatação do ser preexistente ao corpo como sobrevivente à morte.
No nível de consciência inferior, os estados alterados demonstram que muitos desses conteúdos negativos, emergentes e predominantes, procedem das reencarnações passadas, não foram liberados, nem conseguiram diluir-se através das ações enobrecedoras.
Todos os conteúdos primitivos provêm de realizações e fixações sempre anteriores, que somente as disciplinas do esforço, da concentração, da meditação para a ação, conseguem libertar.
Em razão disso, a meditação é uma terapia valiosa para superar os conteúdos negativos, com o objetivo de liberar o inconsciente, ao invés de esmagá-lo ou asfixiá-lo, e, longe, ainda, de o conscientizar, gerar novas formulações e identificações atuais que, no futuro, assomarão como recursos elevados.
Todos os formuladores da consciência superior são unânimes, seja no orientalismo ou na Psicologia Trans-pessoal, em recorrer à terapia da meditação, que faculta o autoconhecimento, preenche os vazios causados pela insatisfação, anula o eu corporal — rico das necessidades dos sentidos — para despertar os ideais subjetivos, as transferências metafísicas.
No nível de consciência superior, o eu deixa de ser mais eu, para ser uma síntese e vibrar em harmonia com o Todo.Desaparece a fragmentação da Unidade e o equilíbrio transpessoal sincroniza com a Consciência Universal.
A característica fundamental do nível inferior, portanto, da prevalência dos conteúdos negativos, é a fragilidade do Eu profundo ante as exigências do ego atormentado, gerando projeções da sombra e desarticulando os projetos de paz.
A Psicologia espírita, por sua vez, cuidando do homem integral, distingue também nos conteúdos psíquicos, negativos, a ingerência de mentes desencarnadas obsessoras, que se comprazem no intercâmbio perturbador, propiciando desconforto e aflição em desforços cruéis, mediante alienações de variados cursos.
Ao mesmo tempo, seres outros desencarnados, invejosos quão infelizes, vinculados às criaturas humanas por afetividade mórbida ou despeito cruento, estabelecem fenômenos de hipnose que retardam o desenvolvimento da consciência daqueles que lhes experimentam o cerco.
Na psicoterapia espírita, o conhecimento da sobrevivência e do inter-relacionamento entre os seres das duas esferas — física e espiritual — oferece processos liberativos centrados sempre na transformação moral do paciente, sua renovação interior e suas ações edificantes, que facultam o discernimento entre o bem e o mal, propiciando a transferência para o nível superior, no qual se torna inacessível à indução perversa.
A meditação, a busca interna, nessa fase, são relevantes e cientificamente basilares para o processo de crescimento, de discernimento, de lucidez.
O homem avança no rumo da sua destinação, a passo vagaroso nos primeiros níveis de consciência, por desinteresse, ignorância, apressando a marcha na razão direta em que vence tais patamares e descobre a excelência das conquistas com que se enriquece.
A libertação dos conteúdos negativos é inevitável; no entanto, vários fenômenos patológicos e preferências emocionais, perturbadoras, interferem para que sejam mantidos, sendo necessário que os psicoterapeutas vigilantes insistam junto a esses pacientes em que se descubram e encontrem os benefícios dos níveis superiores.
Libertação é felicidade, e consciência enriquecida pelos conteúdos superiores significa plenitude, reino dos céus, mesmo durante o trânsito terrestre.
Do Livro O Ser Consciente psicografado por Divaldo P. Franco*