Alienação

Mais lamentável que a aliena-
ção mental, que atinge Espíritos
encarnados e desencarnados, é a
alienação existencial que lhe dá
origem.É o viver sem noção dos porquês da existência.
De onde viemos, o que estamos
fazendo na Terra, para onde vamos?
Fiz certa feita uma pesquisa
junto a colegas de trabalho, com
destaque para a seguinte pergunta: qual o objetivo da Vida?
Pasme, leitor amigo! A maioria,
mesmo dentre os que se diziam
religiosos, não soube responder!
Agora, pergunto-lhe: como pode alguém viver de forma disciplinada, corajosa, espiritualizada,
se não sabe o que veio fazer na
Te r r a ?
Por isso as pessoas desajustam-
-se diante das vicissitudes, ficam
doentes, atribuladas, infelizes, nervosas, desembocando, não raro, nos
transtornos mentais que podem
culminar na alienação.
Princípios religiosos tradicionais
nos dizem que nossa alma foi criada por Deus no momento da concepção e que a felicidade futura
vai depender de cumprirmos o
que Deus espera de nós. Num espaço de alguns decênios, decidiremos o nosso futuro para sempre.
É complicado, porque não somos todos iguais.
Não temos o mesmo caráter.
Não temos as mesmas disposições.
Não temos a mesma inteligência.
Não temos as mesmas virtudes.
Não temos a mesma compreensão.
Há gente boa e gente ruim.
Há gente inteligente e gente
obtusa.
Há gente religiosa e gente materialista.
Há gente virtuosa e gente viciosa.
Há gente altruísta e gente egoísta.
Será que Deus nos fez assim,
com tão gritantes diferenças, como
se tivesse criado uns para a salva-
ção e outros para a perdição?
Tais dúvidas induzem ao amornamento da crença e, não raro, à
descrença.
Por isso, habituam-se as pessoas a viver sem questionamentos, preferindo o imediatismo terrestre às cogitações celestes.
O Espiritismo nos ajuda a superar a alienação existencial, a
partir da fé racional, como propõe Kardec, compromissada com
a lógica e o bom senso.
Somos Espíritos imortais.
Já vivemos múltiplas existências no passado e continuaremos
a viver no futuro, desdobrando experiências de aprendizado e aprimoramento.
Cada um de nós tem uma
idade espiritual, e nossa
personalidade, com
nossas facilidades
e limitações, com
nos s a s   tendênc i a s   b o a s   o u
más, é o somatório de nossas
e x p e r  i ê n c i a s
do passado, do
que fizemos.
As vicissitudes da Terra, os
p r o b l e m a s   e
dissabores que
enfrentamos guardam relação
também com o nosso passado.
Tanto melhor os enfrentaremos
quanto maior a nossa confiança
em Deus e a disposição de lutarmos contra nossas imperfeições,
buscando fazer o melhor.
É o que destaca Kardec, na sequência do citado item 14, ao reportar-se ao indivíduo que enfrenta
as atribulações da Terra:
[...] se encarando as coisas deste
mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo
com alegria, os reveses e as decepções
que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna
que essa força, que o coloca acima
dos acontecimentos, lhe preserva de
abalos a razão, os quais, se não fora
isso, a conturbariam.
Perfeito! Encarar os desafios do
caminho, na jornada da vida, com as lentes do Espiritismo, é a melhor maneira de não tropeçarmos
na alienação.
Pode parecer um exagero o receber mesmo com alegria, os reveses e as decepções...
Difícil rir na dor ou festejar na
frustração.
Mas não seria essa a postura ló-
gica de alguém que resgata uma
dívida? Se chorar diante do credor, não haverá de ser pela euforia
de liquidar o débito?
E se difícil nos parece chegar a
tanto, diante da adversidade, que
pelo menos preservemos a sanidade física e espiritual, cultivando
bom ânimo.